
Estudante de Administração participou do Programa ANFEA de Aceleração de Carreira e de intercâmbio em Zaragoza
A mãe de João Vitor Ribeiro dos Santos ainda era criança quando foi enviada sozinha da Bahia para trabalhar na indústria têxtil em São Paulo. Após perder os pais, só conseguiu completar o ensino primário. Criou quatro filhos sozinha, mas garantiu que todos estudassem. Por isso, o ingresso de João na FEAUSP em Administração em 2020 e seu intercâmbio na Universidad de Zaragoza, na Espanha, são uma vitória para toda a família.
Morador de Itapevi, o jovem frequentou a Escola Técnica Estadual (Etec) de Barueri. Sem condições de pagar por um cursinho pré-vestibular, estudou para a Fuvest usando canais do YouTube. A alegria da aprovação logo deu lugar ao confinamento forçado pela pandemia de Covid-19. Teve somente aulas online nos dois primeiros anos de faculdade e conheceu seus colegas de turma pela tela, porém encontrou formas de se engajar.
“Tentei aproveitar tudo o que podia online, participando ao máximo das aulas e da ANFEA”, lembra ele, se referindo à Associação de Negros Feanos, que roda o Programa ANFEA de Aceleração de Carreira (PAAC) com apoio financeiro da Sempre FEA. O projeto visa aumentar a competitividade de jovens no mercado de trabalho por meio de mentorias, oficinas de habilidades comportamentais, bolsas de estudo de inglês, mentorias e apoio psicológico.
“Achei muito legal a ideia de pessoas negras tentarem se ajudar. No primeiro PAAC, fui um dos acelerados, atuei como voluntário na elaboração do manual para mentores e sugeri tópicos a serem abordados nas sessões.”

A convivência com colegas da universidade e a bolsa para estudar inglês no CAVC Idiomas —outro projeto apoiado pela Sempre FEA— permitiram que João Vitor sonhasse mais alto. “Conheci pessoas que faziam intercâmbio na faculdade ou fizeram durante o ensino médio e comecei a pensar nisso, apesar da barreira financeira ser alta.”
Com boas notas e inglês mais fluente, iniciou uma campanha de arrecadação e participou de editais para estudo no exterior, conseguindo uma bolsa da Sempre FEA. “Zaragoza foi uma ótima oportunidade porque, além de o custo de vida ser menor, eu também pude desenvolver o espanhol.”
Ao montar a própria grade curricular, ele escolheu focar em estratégia, finanças e macroeconomia. “Eu tinha uma aula teórica e outra aula prática, resolvendo cases, usando Excel, analisando dados. Aprendi sobre a economia espanhola na aula de macro. Em finanças internacionais, entendi como lidar com câmbio e diferenciais de taxas de juros. E a aula de estratégia me deu uma noção que foi importante para eu conseguir um estágio em análise de negócios.”
O ambiente universitário internacional contribuiu para que superasse as dificuldades sociais do período de isolamento e ampliou sua visão de mundo. “Pela primeira vez tive contato prolongado com pessoas de outras culturas, fui aprendendo a me abrir, a entender outras perspectivas e a conviver com pessoas de sociedades mais tradicionais como Coreia do Sul e Cazaquistão, que vêm de outro ponto de partida. No intercâmbio todo mundo fica aberto a conhecer todo mundo. Foi como uma compensação por dois anos de pandemia. Fiz amigos da Alemanha, França, Portugal e Romênia.”

De volta ao Brasil, João Vitor se dedica ao penúltimo ano da graduação e a um estágio no Nubank. Ele também já pensa no próximo grande passo de sua trajetória pessoal e profissional: “Meu grande sonho é fazer MBA em Harvard ou em outra top school nos Estados Unidos.”
Olhando para trás, João Vitor percebe a evolução facilitada pelo mundo que se abriu para ele a partir da FEAUSP. “A principal mudança é uma confiança maior no meu potencial. O João de antes tinha várias dúvidas sobre se iria se adequar à FEA ou a outra faculdade. Eu e minhas irmãs somos os primeiros da família a frequentar o ensino superior. Tudo a partir do colégio é novidade para nós. Nesta situação, a pessoa se sente mais vulnerável, mas hoje me sinto mais confiante.”
Esse desenvolvimento pessoal, o envolvimento com a ANFEA e outras entidades e o apoio recebido da Sempre FEA incutiram em João Vitor a vontade de atuar por um bem maior. “Fica aqui meu compromisso, no decorrer da minha carreira e trajetória, de retribuir à sociedade como um todo, à USP e à FEA porque acredito que podemos ser multiplicadores”.
João Vitor fala sobre a sua experiência como intercabista em Zaragoza.